quinta-feira, 31 de julho de 2008

Aviso

Muita gente tem entrado no blog sem passar o código de barras no caixa. Peço a gentileza de seguir esta regra para que a contabilização seja feita. O preço se encontra no verso.

O código de barras está ali, de baixo da perna esquerda da manequim.

Um muito obrigado,

A direção

Reprise Fantasma

27/03/2006 - meu amor não gosta do texto mas gosta de mim
Por André Cintra de Souza Pereira

Quanto mais voltas dão os ponteiros do relógio, mais o relógio vale. É este o pensamento em vigência da "Entre Outras Coisas", uma loja de antigüidades, localizada na rua Cardoso de Almeida.

Há 28 anos no mesmo local (35 de existência, mais sete em outro lugar), a loja encanta pela contradição ambiente: há diversos objetos antiqüíssimos em todas as partes, mas permanece um clima ameno, contemporâneo. A admiração pelo Antigo é feita pela bagagem histórica que só ele possui.

Mas que história? Por serem tão antigas, é obvio que aquelas coisas têm história (não há, neste local, qualquer objeto que seja intranscendente), mas é impossível saber qual história.

Arriete Carbonari, que por lá trabalha por puras paixão e vocação, nos atendeu em uma cadeira dourada de forro vermelho. Quantas agonias sentaram naquela cadeira? Quantas pessoas morreram ali, sentadas? As histórias incógnitas preenchem de mistério a história usual.

Mas, então, a história é feita pelos objetos ou pelas pessoas? Pelas pessoas, que contagiam os objetos, que contagiam outras pessoas.

É, pois, inconcebível comparar as importâncias das pessoas e dos objetos. Vale mais um coração partido de 1827 ou uma obra de arte de 1827? Vale mais, talvez, a obra de arte feita graças a um coração partido.

Cabe ressaltar a figura que é Arriete. Quem não se encanta pelas antigüidades, deve falar com Arriete.

Com 53 anos, é uma das donas, e sempre foi encantadas por antigüidades. "Quando menor, me vestia com as roupas de minha avó.", disse. Ela é capaz de colorir o antigo que só é fosco por nossos preconceitos. Afinal, o passado de hoje é tão passado quanto o de 7 anos atrás, mas é novo e seu valor será acrescido conforme for passando o tempo.

A visitação é válida até para os que nada desejam comprar, pois vale pelo "museu gratuito", e pela gratuidade do encantamento em um lugar que não fará ninguém reviver o passado, mas - em um ambiente repleto de objetos testemunhas de histórias, numa reprise fantasma - dará o gosto de como foi.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Voyeur #4

O quarto era azul até a hora em que desligou a TV.

Voyeur #3

Entrou no quarto, pegou um lápis e saiu rapidamente.

Voyeur #2

Espreguiçou-se voluptosamente. Acho que agradeceu a si mesmo pelo esforço do dia só pela delícia de se espreguiçar agora. Apagou a luz.

Voyeur #1

O homem tirou a camisa e fechou a janela.

Pesquisa revela que André Cintra é chamado mais de 30 vezes por dia em seu trabalho

Em pesquisa realizada entre os dias 21 e 30 de julho, foi constatado que o estagiário André Cintra, 21, é chamado, em média, 32 vezes por dia. Sua chefe lidera o ranking, com 31 pedidos diários.

André mesmo fez o levantamento, marcando com um tracinho a cada vez em que era chamado. "Fiz tantos tracinhos, que receei que a tinta da caneta acabasse", garante o jovem. De fato, é possível notar que nos primeiros dias, as anotações estão mais fortes do que nos últimos dias, quando é possível notar uma maior pressão na caneta.

Ele diz não se importar com o grande número de chamados - 4 vezes por hora - já que é sinal de que está trabalhando. "É melhor ser chamado e ter um salário do que não ser chamado e não ter um salário!", diz em muito bom humor.

Após o dia 31, esse número de chamadas deve diminuir, já que os outros estagiários voltarão ao serviço e André trabalhará menos horas - cerca de seis diárias.

André Cintra não toma mais Coca-Cola nos dias de semana

Desde segunda-feira passada, dia 21, o paulista André Cintra não toma mais Coca-Cola de segunda a sexta-feira. Ele tomou esta atitude em acordo com a namorada e noiva, Juliana, para reduzir os danos que a bebida lhe causa no estômago.

"Resolvemos fazer assim quando em um sábado, após tomar três latas deliciosas, meu estômago reclamou veementemente", revela. Apesar do esforço inicial, não tem sido difícil para seguir a risca a abstinência, o que não surpreende, já que chegou a ficar um ano - entre os anos de 2006 e 2007 - sem tomar o refrigerante devido a uma promessa, além de sentir as mudanças em seu próprio corpo.

"Agora eu me alimento melhor, saboreio mais os alimentos e não fico naquela ânsia de tomar Coca que eu sempre ficava antes do almoço e da janta", diz. Outras melhorias foram sentidas até no sono, "porque agora estou com menos cafeína no sangue, por isso consigo dormir com maior facilidade. E acredite: Meu sono está até mais profundo!"

Se antes André tomava uma lata do refrigerante no almoço, e três copos na janta, calcula-se que até agora ele deixou de tomar um litro do refrigerante por dia. Na noite desta quarta-feira, André deixará de ter tomado oito litros. Ele ainda recomenda: "Faça como eu, troque sua Coca por um suquinho. É mais gostoso e faz bem!"



Em 2006, André não tomou Coca por conta de promessa

A ausência de Coca-Cola nas refeições de André não é novidade. Em 2006, ele ficou um ano sem tomar o refrigerante por conta de uma promessa. O motivo ele não revela, mas garante que era questão de vida ou morte.

"Precisava muito dessa coisa, e peguei pesado. Deus não me ia negar a troca. Um ano sem Coca Cola era o maior sacrifício que eu poderia fazer sem morrer, é claro", diz, ressabiado de que estivessem descobrindo seu segredo.

Ele garante que cumpriu a promessa a risca. "Tinha muito medo. Se via uma Coca pela frente, arrepiava de nojo!"

terça-feira, 29 de julho de 2008

Jin Jin annd the Pin Up

Eu tenho uma banda gaúcha. O nome dela, você mesmo pode ver no título deste texto. Mas eu vou repeti-lo porque é um nome muito feio para ser dito duas vezes. Eu adoro a feiúra. Jin Jin annd the Pin Up, com dois ênes no and.

Era para ser uma banda paulista experimental. Mas os experimentos precisavam ser aplicados. Então, pelo mesmo motivo que Einsten resolveu falar para alguém que estava fazendo uma bomba atômica, resolvi passar no cartório e mudar a residência da minha banda para o Rio Grande do Sul. Porque hoje, as qualidades possíveis de uma banda são: boa sonoridade, hits frenéticos, boa melodia, tudo o mais. Mas a principal qualidade que a banda pode ter é: ser gaúcha. E é essa qualidade, a qualidade primordial, que torna uma banda conhecida.

Cantamos também com o sotaque gaúcho. Não nos é difícil improvisar o sotaque, porque já estávamos acostumados a utilizá-lo na hora de conseguir os melhores contratos nas gravadoras e as melhores peças nas churrascarias.

Agora que faço sucesso, são três os tipos de pessoas que entram em contato com a minha música. Tem os idiotas, que gostam só porque faz sucesso; tem os bobos, que não gostam só porque faz sucesso; e tem os fãs que valem a pena, que gostam apesar de fazer sucesso.

Os fãs me escrevem e-mails e eu lhes respondo sempre assim: "Este e-mail não pôde ser entregue. Tente novamente ou desista." Metade deles tentam novamente, e eu respondo da mesma forma. E então, um quinto deles tentam novamente - 10% do número inicial. A estes, escrevo uma mensagem assim: "E aí, qual é a boa? Vamos conversar." É assim que faço amizades virtuais através de minha banda.

Toco baixo, berimbau, piano e bateria. Também improviso no violão, no teclado, bato palma e pandeiro. Sim, sim, também temos músicas.

Perguntam-me freqüentemente das influências. Respondo que meu pai, minha avó e, sobretudo, minha noiva são uma grande influência em minha vida. Aí o repórter diz: "influência musical, quero dizer." Musical, nenhuma. Não gosto de ouvir música. Agora, tenho uma certeza influência dos gaúchos, no sotaque.

André Cintra trabalha dobrado

Desde do dia 16 deste mês, André Cintra tem trabalhado dobrado. Ele entra às 11h e sai às 19h, quando ingressa na estação Anhangabaú lotada e volta para casa.

O motivo de tanto trabalho é compensar o pouco trabalho do início do mês. "Não trabalhei nada nos quinze primeiros dias. Zero", revela André, no intervalo entre uma função e outra.

Para compensar a ausência de André, foi outra pessoa que trabalhou a mais nos quinze primeiros dias - agora, ela folga. Assim, o dobro das horas de trabalho são coincidentes ao dobro de funções.

André compensa dias de folga porque é estagiário. Estagiário, além de não ter fundos de garantia, folgas e aviso prévio, não tem férias. Para descansar, é necessário que o estagiário faça uma compensação.

Ofensas de um grande homem #4

- Ora, seu gordo!

O homem de um metro e noventa e oito disse para o menino que segurava uma bola colorida e suava. A camisa do menino, de tão enxarcada, parecia que ela mesma suava, não o menino. O menino soube que o homenzarrão se dirigia a ele, mas ele queria, muito, brincar com a bola que acabara de ganhar, e apenas fungou com o nariz, duas vezes.

Ofensas de um grande homem #3

- Sua virgem!

Com um metro e noventa e oito, o imenso homem dirigiu suas palavras à freira transmitindo a idéia de que cada centímetro de sua altura corresponde a uma trepada. Claro que a freira era muito pequenininha. Uma anã sem deformações. É pequena para um pingüim; tinha dificuldades de subir degraus normais; pulava para sair da rua em direção à sarjeta; se punha de ponta dos pés para enxergar uma maquete em sua totalidade; enfim, era uma freira muito, muito pequena. Não vou falar da ausência de beleza, pois era tão pequena, tão ínfima, que sua feiúra passava desapercebida, demonstrando que um defeito encobre o outro.

Mas ela riu com a ponta dos lábios e pediu licença ao imenso homem, porque precisava passar.

Ofensas de um grande homem #2

- Cachorro velho!

Com doze quilos além de seu peso ideal de doze quilos, mirou aquele gigante homem de um metro e noventa e oito, sem ouvi-lo. Depois mirou o pão de queijo que ele segurava em uma das mãos. O cãozinho pára para pensar se olhou primeiro o pão de queijo ou o homem. Ele pensa que não é por que está com catorze anos, que todos vão lhe oferecer pão de queijo de mão beijada, que tem que ficar sempre esperto. O homem não resiste e lhe oferece o pão de queijo inteiro. O cachorro engole o pão de queijo e se vira para deitar. Deitado, percebe que ficou primeiro impressionado com a altura do homem para depois reparar no delicioso pão de queijo. Pensa:

- Estou ficando velho!

Ofensas de um grande homem #1

- Você tem mãos de lagosta!

De cima para baixo, disse o homem de um metro e noventa e oito para a menina que estava sentada ao chão brincando com seus brinquedos. Ela não fez nada. Apenas olhou para o alto, distraída e mexeu também distraidamente suas mãos de lagostas.

Isto não foi uma ofensa.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Roberval destruindo a Floresta Amazônica

O homem ligou a serra-elétrica e encarou a árvore de trezentos anos.

Antes de cortá-la ainda vacilou e acelerou o motor como fazem nos filmes. Então ouviu o seu nome, bem baixinho:

- Roberval.

Desligou a serra e pôde ouvir agora com mais clareza:

- Roberval, sou eu, a árvore!

Não sei por quê, mas ele não se assustou ao ouvir a árvore falar com ele. Não sei se ele não sabia que árvores não falavam, mas, para mim, ocorreu que ele estava tão sozinho e uma companhia numa hora dessas caiu-lhe tão bem quanto Coca-Cola com lazanha.

- Ô, minha arvorezinha, pode falar!

- Roberval, é o seguinte:

Neste instante, Roberval teve a primeira suspeita. Como a árvore sabia o nome dele?

- Está escrito na sua camiseta.

- Ah, sim.

- Roberval, não me serre, Roberval. Eu sou tão antiga, tenho tantos frutos, faço tão bem para a natureza e para os homens! Você me serrar por dinheiro é tão hediondo quanto matar criança prá fazer sabão! Pense nos seus filhos, nos seus netos!

- Quero que eles tenham mesas e cadeiras sempre de ótima qualidade!

- De que adianta mesas de boa qualidade, quando se sentam na mesa e não têm um ar gostoso para respirar?!

- Olha, Jaque, a senhora pode conversar comigo o quanto quiser, mas

- Como assim, Jaque?

- Está escrito no seu tronco.

- Não, Roberval. É que estava escrito "Cada um desperta em mim a Jaque que merece", de uma mulher que veio me visitar um dia e cravou isso em mim. Um dia, veio um moço me serrar. Ele chegou a cortar um pouquinho, bem na parte em que estava cravada a frase, quando o convenci a não me matar mais.

Eu achei de uma indiscrição ímpar, que Roberval não tivesse a curiosidade de perguntar à árvore o nome dela. Na verdade, não me importo com a indiscrição dele, nem com a tristeza da árvore ao perceber que Roberval não queria sequer saber o nome dela. Fiquei é curioso, como se chama a árvore?!

- Hum, sei...

- Olha, Roberval, não me mata. Eu sou oca, os cupins me comeram toda por dentro!

- Oca, com esse papo cabeça?!

E Roberval serrou a árvore de uma vez só, pois precisava voltar logo para casa e conversar com uma pessoa.

O cachorro e a mulher

Nada de anormal acontece, uma vez que a mulher não estava latindo e quem abanava o rabo era o cachorro. Os dois ofegavam, mas era o cachorro quem fazia mais barulho. Quem usava a correntinha era o cachorro, apesar de a mulher portar um colar de coração.

No bolso da mulher, dois sacos plásticos. Um era para ser usado quando o cachorro fizesse cocô e tivesse alguém olhando; o segundo era para se já tivesse usado o primeiro e o cachorro resolvesse defecar justamente quando tivesse outra pessoa olhando. O cachorro nunca fazia cocô três vezes.

Passou outro cachorro do outro lado da rua e foi o cachorro quem latiu e a mulher quem o controlou. Foi no pescoço do cachorro que doeu quando a coleira foi puxada e foi a mulher quem disse “xiu, xiu, xiu!”

O cachorro se acalmou e foi ele quem puxou a coleira para ir à arvore que estava na sombra. E ele também quem levantou a perna e fez um xixi espesso. A mulher foi quem ficou corada quando passaram três rapazes sem camisa de bicicleta.

Nada de anormal. Um dos rapazes grita:

- Cachorra!

Aquele shortinho não era para ser usado por uma mulher ao meio dia de uma quarta-feira nublada.