sexta-feira, 29 de agosto de 2008

André estava surpreendentemente estranho nesta sexta-feira. Suas olheiras o deduravam ostensivamente: Dormiu pouco ou dormiu mal. "Dormi pouco. Sexta-feira sempre acordo mais cedo", diz. Mas esta é a sétima vez que entrevisto este grande ícone e posso garantir: Dormiu mal. Porque André não fica lento quando dorme bem, mesmo que pouco.

A matéria está editada, mas se não estivesse, você poderia logo notar que em algumas ocasiões, tive que lhe perguntar duas, três vezes para obter uma singela resposta monossilábica. Mas vocês sabem que antes uma sílaba de André do que duas, três, quatro sílabas de outros.

Eu: Você está esquisito. Como foi seu sono?

André: Dormi pouco. Sexta-feira sempre acordo mais cedo. Acordei com uma vontade danada de uva.

Eu: Você prefere mesmo as uvas thompson?

André: Sim, sim. Elas não têm caroço. Caroço é como um assunto obsessivo que estraga uma pessoa super simpática. Sabe? O cara é legal, é docinho, é palmeirense (verde) mas adora falar sobre cocô e catarro. Dá para falar com alguém assim? O assunto obsessivo - cocô e catarro - é o caroço!

Eu: Mas eu adoro cocô e catarro. Você não está falando de mim, está?

André: Não. Estou falando de mim!

Eu: Não é porque você está nervoso, que vai jogar ironias na minha cabeça.

André: Sei.

(Silêncio constrangedor em que trocamos caras feias e biquinhos)

Eu: Por que a barba tão grande?

André: Ela não está exatamente grande. Está grande para os meus padrões. Para o Bin Laden é uma barba muito pequena.

Eu: Então por que você diz que sua barba é muçulmana?

André: Porque é ruiva.

Eu: Mas o bin Laden tem a barba preta e é muçulmano.

André: Veja. Não é porque muçulmano não tenha barba ruiva, que a barba ruiva não vá parecer muçulmana. Quando a gente não tem uma idéia precisa do que é a coisa, uma coisa que a pareça parece o que a gente imagina que é, não o que ela realmente é.

Eu: Explica isso direito.

André: Os muçulmanos não têm a barba ruiva. Mas quando imaginamos um muçulmano, imaginamos um muçulmano de barba ruiva. Por isso que a minha barba parece muçulmana, porque ela se parece com o tipo de barba que nós imaginamos que os muçulmanos têm.

Eu: Entendi. Posso confirmar uma próxima entrevista na semana que vem?

André: Mas é claro!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Tragédia bonsai

Tragédia bonsai é a tragédia que não tem as partes principais que compõem a tragédia.

É uma tragédia que não tem a extensão da tragédia convencional. Nem as conseqüências. É a tragédia cotidiana. E às vezes, acontece mais de uma vez por dia.

Eu sei que você quer exemplos.

Tragédia bonsai #1
O sujeito vai à entrevista de emprego, quando pisa no cocô. A tragédia bonsai é que ele percebeu na hora em que entrava na sala de entrevista.

Tragédia bonsai #2
A freira está depilando os pêlos pubianos em moicano, quando ouve o barulho do padre principal se aproximando. A tragédia bonsai é que na pressa toda, ela se cortou lá onde não devia!

Esta é a nova série do blog. Tragédias bonsai.

Leia aqui tudo o que você quer saber sobre tragédias bonsai

Tragédia Bonsai é um termo brasileiro que misturou um termo grego com um termo japonês para significar um tipo de tragédia que sempre existiu mas que só eu, somente eu,

- É sempre ele!

Somente eu tive a sensibilidade de unir os dois termos e inventar a grandiosa tragédia bonsai!

Tem gente que diz que não é invenção quando somente se junta duas coisas. Que na verdade você só juntou. Mais ou menos.

É assim. Tem supostas invenções que são as invenções somáticas. Você soma uma coisa com a outra, que adquirem um sentido somado. Nada demais. Aí eu digo: - "Não é invenção, não senhor!"

Agora, as invenções de verdade são as invenções multiplicáticas. Quando as duas coisas se multiplicam, quem diria que não é invenção? Por exemplo: Pão com manteiga! O pão e a manteiga se multiplicaram, atingindo um sentido completamente novo, muito maior do que o pão sozinho e muito maior do que a manteiga sozinha.

É o que acontece com a tragédia bonsai. É um termo completamente revolucionário. Mas isso é assunto para outro post.

Tragédia bonsai

A tragédia bonsai foi, claro, inventada por mim no século XXI depois de Cristo enquanto usava o computador e via as últimas notícias de meu time. Li "Valdívia faz propaganda para marcas de chuteiras" e me veio a idéia. É óbvio que isso não tem relação com a criação da idéia. Acho que a idéia estava lá, pronta para sair, e veio enquanto parte de meu cérebro estava ocupada por uma notícia de futebol.

O que é tragédia bonsai? Eu sei, mas já explico. Quando pensei nela pela primeira vez, tudo já estava pronto na minha cabeça.

Quero dizer é que a gente pensa nas coisas sem saber. O mérito da genialidade de alguém dificilmente é da pessoa. A genialidade vem como um mendigo que a gente encontra e nos pede moeda. A diferença é que a genialidade não pede moeda. Aliás, ele pede discretamente, porque ela se aloja na gente e a gente ganha moedas por causa dela.

Não quis dizer que sou gênio, muito menos. Isso são vocês que dizem. Eu só digo isso na hora de vender jornal.

A tragédia bonsai vai ficar para um outro post, sem digressões.

Ficha técnica dupla - Cafu e Cafu


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Convocação

Eu não ligo de votar para Presidente.

Meus pais, meus avós, meus tios, minhas chefes contam - todos contam! - da luta que tiveram para votar para Presidente. Mesmo que minha mãe tenha vivido sem mover uma vírgula contra os militares. E mesmo que meus avós tenham aplaudido os militares uma vez em sete de setembro.

Mas essa geração se esqueceu do mais importante. A eleição direta para a seleção brasileira!

Somos obrigados a agüentar alguém como o Parreira de técnico. Alguém como Gilberto na lateral! Meu Deus!

Aqui vai a minha convocação com as devidas explicações.

Goleiros:
Marcos - Palmeiras

O melhor goleiro do mundo tem que ser convocado mesmo que tenha 36 anos. Marcos é o goleiro que toma um gol fácil a cada quatro defesas impossíveis de que só ele é capaz. Os atacantes sabem que tem gol que se faz nos outros goleiros e gol que se faz no Marcos.

Clêmer - Internacional
Convoco Clêmer porque é a melhor forma de o Internacional achar alguém bom para o gol sem tirar a moral deste ilustre goleiro campeão mundial.

Viáfora - Atlético Mineiro

É tão divertido vê-lo jogar. Merece um grande apoio.

Laterais
Minha seleção não convoca laterais porque o Brasil não pode ter gente limitada jogando. Lateral é uma posição em si limitada. Deve ser horrível jogar bola sendo lateral. A única vantagem dos laterais é que eles cruzam como ninguém. É bonito de se ver um cruzamento de um lateral como o Leandro, do Palmeiras.

Zagueiros
Henrique - Ex-Palmeiras

Henrique não queria sair do Palmeiras, no entanto teve que ir embora. É um zagueiro extraordinariamente bom e preciso a despeito do rosto loiro. Zagueiro loiro é praticamente uma contradição!

Gladstonhão - Palmeiras
É o zagueiro que está em falta hoje em dia. Porque hoje todos sabem jogar, todos vão na bola. Zagueiro bom às vezes precisa ter uma deficiência mental e de caráter, que Gladstonhão tem sobrando!

Gustavo - Palmeiras
Gustavo é um jogador do Palmeiras que é bem palmeirense. A seleção brasileira, para se dar bem, precisa de jogadores palmeirenses - mesmo que o Palmeiras seja um time de origem italiana.

Volantes
Hernanes - São Paulo
É claro que a seleção brasileira tem ido mal ultimamente devido a um grande número de jogadores do São Paulo. Mas Hernanes é tão bom, que nem parece que é do São Paulo.

Ramirez - Cruzeiro
É uma delícia ver um jogador que transcende a posição em que joga. Ramirez poderia jogar em qualquer posição possível.

Pierre - Palmeiras
Porque para se jogar bem é preciso também impedir que o outro jogue.

Sandro Silva - Palmeiras
César Sampaio é o apse da posição de volante. Quanto mais próximo a César Sampaio, melhor o volante é. Sandro Silva lembra tanto o César!

Meias
Alex - ex-Palmeiras

Sempre digo que as pessoas inteligentes jogariam futebol com muita facilidade. Alex é tão inteligente e pega tão bem na bola, que é o jogador mais completo que eu já vi.

Valdívia - ex-Palmeiras
Eu sei que Valdívia é chileno, mas é o melhor jogador do Brasil. Os outros jogadores, a gente decide se é bom ou ruim. Valdívia é diferente disso. Valdívia é divertido, é engraçado, é humilhante!

Alex - Internacional
Ser comparado a Valdívia o torna indispensável em qualquer time.

Ronaldinho Gaúcho - Milan
Assim como eu, Ronaldinho pensa antes nas jogadas. Mas não antes, durante o jogo. Ele pensa no dia anterior, e chega no jogo prontinho para fazer. Ele tem uma antecipação pré-histórica que o torna melhor que os adversários.

Atacantes
Alexandre Pato - ex-Inter

Pato é BOM. Ele é bom em todos os sentidos. Sabe faz tudo bem. E tem a classe e a raça que só um colorado pode ter.

Fernandão - ex-Inter
É o Pato mais alto, mais encorpado, barbudo e classudo. Ou o Pato é o Fernandão mais jovem.
Rafael Sóbis - ex-Inter
Dois gols no Morumbi na final da Libertadores.

Reserva
Júlio Batista - Real Madrid

Ele é o melhor reserva do mundo. Na minha seleção, a única substituição possível seria a entrada do Júlio Batista. Sai um zagueiro, entra Júlio; sai um meia, entra Júlio; sai um atacante, entra Júlio. Joga bem em todas as posições.

Técnico
Vanderley Luxemburgo

O único técnico possível para a seleção. Técnico se mede pela capacidade e pelo caráter, que Vanderley definiticamente não tem. Felipão tem, mas não sairia do Chelsea.

Funcionário do mês - Agosto

Este blog tem uma fonte no mínimo espacial. Poder-se-ia dizer, também, especial.

É alguém que está sempre bem informado, que sabe de todos os assuntos, que não deixa passar nada e dá a informação prontamente sem que seja necessário checar com mais ninguém. Está sempre disponível, mesmo que não esteja em casa. É possível contactá-lo até onde o celular não pega; e também sem gastar dinheiro com telefone. É alguém ocupado, que está em todos os lugares preocupado com o bom andamento do mundo. Não é Leão Lobo, não é Chico Lang, não é Roberto Avalone.

É Deus.

Falo com ele freqüentemente. E numa de nossas conversas, falei, ou pensei:

- Deus. Por que você não colabora para o blog?

Deus concordou prontamente e deu logo a idéia: a de criar a seção de Funcionário do Mês.

Você sabe que todos nós somos funcionários de Deus. E ele escolherá entre nós um, somente um, que seja exemplo para todos os outros. Confira o pronunciamento Dele para a proclamação de Funcionário do Mês de Agosto.

"Este foi o mês das Olimpíadas. Como vocês sabem, o Brasil nunca ganha muitas medalhas.

É muito difícil ter talento no Brasil. Se você quer ganhar dinheiro, medalhas ou ter qualquer tipo de reconhecimento neste país, eu lhe recomendo: não tenha talento.

Porque para ganhar dinheiro, alguém tem que gastar para você; para ganhar medalhas, alguém tem que apoiá-lo quando criança; e para reconhecê-lo, não se pode ter inveja de você.

E o Brasil é um país que não se arrisca a investir no talento. Porque talento é uma coisa muito pouco papável e confiável. É muito mais fácil investir em alguém que não tem talento, já que está pessoa não o colocará em riscos. O talento é arriscado. E para investir no talento, é preciso ter talento de investimento. Isso porque o talento causa inveja, e um empregador sem talento se recusaria a investir numa pessoa talentosa.

É uma sucessão de grandes erros que tira as medalhas do Brasil.

Por isso é que a culpa da falta de medalhas não é dos atletas. É das pessoas sem talento que empregam. Mas eu as perdôo.

O Funcionário deste mês é Bernardinho, técnico do vôlei.

O motivo é o de ele ter elevado o vôlei do Brasil a um nível tão elevado, que no país do bronze, não ganhar o ouro foi um espanto!

Até o mês que vem. Continuem rezando bastante. Aceito oferendas, mas isto não implicará em indicações, porque vocês não precisam me oferecer nada. Eu posso ter tudo que quero. Concentrem-se nos seus afazeres!"

A mulher que esqueceu o vibrador dentro

- Você não pode dar vitamina pro seu filho. Não dê vitamina, não deixe ele tomar sol e também pratique exercícios regularmente. Porque senão, minha filha, ele vai ter câncer de próstata! Você não quer que ele tenha isso, quer? Eu também não quero, e é por isso que lhe estou recomendando. Depois que eu passei pela USP, mudei a minha vida toda. Sabe? Fiz USP, por quatro anos. Lá, aprendi o que eu tenho que fazer para cuidar direitinho da máquina que tenho dentro de mim!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ewerton Clides é acusado de plágio

O grande sociólogo e escritor Ewerton Clides foi acusado na tarde desta terça-feira pelo autor do blog Eu não sou virgem, Maria!, André Cintra, de plágio profundo. O suposto plágio está no esboço do livro de Ewerton Clides, Cafu é meu.

O curioso é que Ewerton Clides não publicou este livro temendo justamente ataque jurídicos pela semelhança de nome entre o cachorro que deu nome ao livro e o jogador Cafu. "O Cafu, jogador de futebol apenas mediano, não perdoaria e processar-me-ia de modo inapelável", diz Ewerton Clides. Quanto à acusação de André, Ewerton Clides foi enfático: "Citei no blog que a frase era de André. Juro que citei!"

A frase em questão é: "Se antes eu sonhava qualquer coisa, acordava e vivia o Cafu, depois disso eu passei a sonhar com o Cafu, acordar e viver qualquer coisa." De fato, é idêntica a que André cunhou em seu texto. Mas também é verdade que Ewerton Clides explicitou a autoria da frase: "Esta frase, plagiei de André Cintra. Claro que é muito sentimental, e não é sociologicamente viável em um texto. Claro também que não corresponde à realidade, já que sonho sempre com Juliana e vivo Juliana. Mas é muito, muito bonita."

O jurista André Cintra (sim, André Cintra nos jurou que é jurista) está inapelável. "Ewerton Clides me plagiou. Repare que até ele mesmo disse que me plagiou. Foi um plágio profundo, pois tem a confissão do culpado! Plágio é plágio e vice-versa!", diz o jurista em tom de galhofa.

O processo está em curso no Superior Tribunal Tribunal, o STT, e deve ser resolvido em alguns anos. Mas o que tira o sono de toda a gente é o atrito entre André Cintra e Ewerton Clides, gênios que tinham acabado de fazer as pazes. Os dois, porém, recusaram a comentar sobre as supostas novas rusgas.

Cafu é meu

por Ewerton Clides

Eu, Ewerton Clides, tenho notado um fenômeno muitíssimo interessante.

Uma coisa que lhes adianto, é: não sou o único que notou o fenômeno muitíssimo interessante.

É o fenômeno dos livros que debatem a relação entre cães e donos de cães. Começou com o dono do Marley. Não quero nunca ler o livro que ele escreveu, mas achei tão aprazível que o título do livro seja Marley e eu. Eu achei bonito não pelo título em si, senão porque ele disse o nome do cão e não disse o dele. Eu sei o nome do Marley e não sei o dele.

Foi um ato de uma humildade estupenda. Se não fui de humildade, foi de burrice. Mas prefiro pensar na humildade, já que ela inspirará os leitores nesta tarde de terça-feira.

Mas este texto é para explicar que a moda começou quando surgiram boatos de que eu, Ewerton Clides, estaria fazendo um livro deste tipo. Não era verdade. Porém, as pessoas não se preocupam com a veracidade quando há o nome Ewerton Clides no meio.

Inspirado pelo boato, comecei a fazer um livro sobre minha profunda relação de carinho e afeto com meu cão, quando me dei conta que teria graves problemas autorais. O nome dele é Cafu. O Cafu, jogador de futebol apenas mediano, não perdoaria e processar-me-ia de modo inapelável. Portanto coloco aqui neste belíssimo blog um pequeno trecho do esboço do meu livro. O nome do livro seria: "Cafu é meu". Vamos ao trecho.

"Cafu é o cachorro mais burro que já conheci. Demorou cinco anos para aprender a sentar seguindo ordens. E demorou mais 13 anos para abrir portas sozinho. É claro que a porta tinha que estar entreaberta para ele abrir. Mas ele esticava a patinha, abria, e mesmo eu, Ewerton Clides, não ousaria lhe dizer:

- Cafu! Não foi você que abriu! Na verdade, a porta já estava entreaberta.

A ousadia, eu teria. Mas não perderia meu tempo, porque Cafu é burro e não sabe decifrar as palavras humanas.

Cafu morreu.

Se antes eu sonhava qualquer coisa, acordava e vivia o Cafu, depois disso eu passei a sonhar com o Cafu, acordar e viver qualquer coisa. Esta frase, plagiei de André Cintra. Claro que é muito sentimental, e não é sociologicamente viável em um texto. Claro também que não corresponde à realidade, já que sonho sempre com Juliana e vivo Juliana. Mas é muito, muito bonita."

Visitantes d´além-mar

Desde a última sexta-feira, o autor deste blog notou um aumento significativo do número de visitantes d´além-mar. Portugal está melhorando deveras, basta ver o número de visitantes neste blog. E também o quadro de medalhas das Olimpíadas.

Ficha técnica - Pêdra

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Tupac

Ele encarava todos como grandes adversários. Olhava feio para sua mãe quando ela vinha fazer carinho, detestava a irmã com aquele sorriso de aparelho e respeitava o pai, embora desconfiasse deveras. Até a avó, que fazia o bolo tão gostoso, ele não olhava direito.

- É tudo uma grande competição. Mas não é só uma luta pelas coisas. É uma luta um contra o outro, cada um querendo acabar com o outro. É preciso estar o tempo inteiro se defendendo, senão acabam com você.

Era para ser uma grande bobagem. Mas seis meses depois que ele morreu, quando parou de se defender, só restava o osso.

Ney Latorraca

- Você é tão ridículo. Devia colocar um chapéu marrom para quando te olhassem pensassem que o chapéu marrom que é ridículo, não você. Eu até gosto que você seja assim, porque você passa e me dá vontade de rir. O ridículo é ruim só para quem é; para quem olha, é uma delícia.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Para a entrevista de hoje, André Cintra estava visivelmente ansioso. De noite, ele iria ver a namorada. E a namorada é tão bonita, que até eu fiquei ansioso por ele. Com a camisa do Palestra, o assunto predominante de hoje foi a fobia que ele tem de dirigir.

Eu: Você chegou aqui pontualmente e não dirige. Como isso é possível?!

André: Olha. Para mim o contrário é que seria impossível. Se eu dirigisse, dirigiria tão mal, que não chegaria nunca aos lugares. Eu detesto pensar em dirigir, porém às vezes sonho com isso e penso: como seria bom não ter esse medo! Para você ter uma idéia, quando eu fiz 18 anos, me falavam que eu poderia ser preso e também que poderia tirar carta de motorista. Para mim, uma coisa era tão distante quanto a outra.

Eu: Isso te afasta ainda mais da direção?

André: Você quer dizer que dirigir era uma coisa impensável. Aí se eu dirigisse, ser preso não seria algo tão distante assim. Bem, nunca fiz essa relação tão claramente. Mas para dirigir, vou fazer um esforço pela minha namorada. Quero dizer, põe noiva. Escreve aí noiva. Pela minha noiva e pela minha filha. Mas para ser preso, é justamente por elas que não vou me esforçar! Por elas e por minha mãe, coitada da minha mãe.

Eu: Por falar na sua mãe, ela acha um absurdo que você não dirija, porque quando pequeno você só gostava de carro. Brincava com carro, ficava olhando os carros e sabia diferenciar um Corsa de um Pálio.

André: Eu gostava de brincar com carros porque eu podia dirigir rápido meus carrinhos de brinquedo. Ou melhor. Eu gostava de brincar de carro porque não tinha poste. Criança não pensa em poste, não pensa em atropelamento, não pensa nessas coisas que atrapalham a vida. Quando eu estava andando de carro uma vez com minha mãe aos 8 anos, vi uma viatura do corpo de bombeiros parando o trânsito. Minha mãe disse: não olha. Eu olhei e vi que a pessoa só estava daquele jeito porque alguém que dirigia a atropelou. Tenho horror de atropelar alguém, cruzes!

Eu: Sei. Vamos mudar de assunto que eu já vi que você não gosta de falar de carros.

André: Não, não. Vamos encerrar a entrevista mesmo.

Eu: Não posso fazer só mais uma pergunta?

André: Só mais uma.

Eu: Verdade que você não aceita sugestão de ninguém no blog? Nem para fazer correções?

André: Verdade.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Clássicos? Sei. #2 - José Saramago, Ensaio sobre a cegueira

Vocês sabem muito bem que sou muito bem plagiado. Há a diferença entre o plágio comum e o belo plágio.

Eu sempre fui muito bem plagiado. Por exemplo.

O escritor português, José Saramago, me plagiou no livro Ensaio sobre a cegueira. É claro que eu escrevo corretamente, utilizo vírgulas e falo português com consoantes. Mas foi um belo plágio. Um belíssimo plágio.

Agora. Tem gente que anda fazendo blog só porque gostou do meu. Plágio por isso, não é. É uma grande alegria, mas não é por isso que vou demonstrar grande entusiasmo por aqui. Aqui não é lugar de entusiasmos. Não. Aqui é lugar de grandes textos, de grandes idéias e de minha imensa genialidade.

Parabéns a quem me imitou. É bom saber de onde se plagiar. Eu mesmo plagio a mim mesmo e ao senhor Ewerton Clides, que é meu amigo imaginário.

O escritor José Saramago me plagiou no livro Ensaio sobre a cegueira. Eu lancei, anos antes, o livro Ensaio sobre a cegueta. É um livro muito pouco divulgado, embora tenha uma qualidade muito superior. É como a diferença entra Dostoievski e Harry Potter na terceira série infantil. Harry Potter é muito mais conhecido, mas quem é melhor? Hum.

Como o meu caríssimo leitor não deve ter lido meu livro pela menor carga publicitária, mostro-lhe um pequeno trecho.

"A pior coisa de ser cego não é não poder olhar. É não poder olhar as pessoas que olham assustadas para você. Eu nunca fui cego para sentir isso; mas quem foi cego também não sentiu. É uma coisa que se sente pelos outros, por isso é necessário ter muita compaixão para isso. E eu não tenho compaixão. Só falo porque imagino como seria ter compaixão.

Ela andava com o poodle labrador e a varinha de cegos. No meio da rua, deixou o poodle labrador um pouco de lado e, com a varinha no lugar onde estaria um pênis se ela fosse ele, girou 360 graus. Assim, pôde cuspir o catarro que a incomodava sem acertar ninguém."

A vergonha

Ela me olhou vermelha da cor do batom. O batom era vermelho da cor de tomate. O tomate era vermelho da cor de erro na prova. E agora a gente deixa de putaria e começa a história.

Ela disse que precisava falar comigo. Eu pensei, se quer falar comigo, por que não veio na minha mesa ao invés de me chamar, como se eu é que quisesse falar com ela? Mas eu só pensei, não falei, porque se falasse, ela fingiria que não ouviu. Eu falei, fala.

Ela começou a falar da mãe, que não atendia o telefone; do filho, que mudou de casa e usava cuecas dos dois lados; das pernas dela que não se adaptaram à cadeira velha e de outras coisas que não me lembro porque eu só fingi que ouvi.

Nesse momento eu pensei que era sexta-feira e precisava sair logo, para ver a minha namorada. Olhei para a mão esquerda e pensei, ôpa!, é noiva. Se minha noivinha souber que eu pensei isso, me mata feito Tiradentes. E ainda joga sal no lugar em que eu pensei. Não tem terra onde eu pensei? Não importa. Noivinha joga sal do mesmo jeito!

Mas ela, não a noivinha, a pessoa do começo do texto me disse:

- Estou com tanta vergonha de te pedir uma coisa!

Ao que prontamente respondi:

- Então não peça! Não peça, porque vergonha serve para isso!

O ônibus de Ewerton Clides

por Ewerton Clides

Perguntam sempre a mim, Ewerton Clides, o porquê de eu andar sempre de ônibus, não de carro, moto, motovan e de bonde.

Sempre digo que a motivação maior é a de que em ônibus, é possível que se faça um maior número de estudos sociológicos. Posso ver uma criança conversando com a mãe e fazer-lhe alguns questionamentos; posso sentir o nervo acirrado do motorista quando passa por uma lombada, ou até mesmo a angústia do cobrador quando não há troco possível.

Tudo isso me seria impossível em carro, moto, motovan e em bondes. O carro me sufoca. Me sinto tão apertado, que me dá vontade de desabotoar minha camisa marrom, num tremendo desvio sociológico! Além de balançar e me dar vontade de tomar dramin.

Não sei dirigir motos. Assim, tenho que abraçar o motorista. Não abraçava nem minha avó, vou abraçar o motorista?! O pior das motos é que elas me obrigam a abrir as pernas, numa exposição terrível.

Motovan, eu não sei o que é. E bondes já não existem mais.

Mas o que mais me espanta, que me deixaria de cabelos em pé se eu tivesse cabelos, é a desatenção profunda do leitor.

Você, leitor, me imaginou em um ônibus repleto de gente. Quanta desatenção, minha gente! Mas quanta desatenção, repito, minha gente!

O leitor não imaginou que meu ônibus é privativo. Só eu ando nele e observo pelas janelas todo o mundo sociológico por fora.

Imagine eu, Ewerton Clides, andando em um ônibus, de pé?!

Saibam que também sou ecologicamente correto. Ouvi dizer que andar de ônibus é muito mais conveniente à natureza do que andar de carro.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

André Cintra registra temperaturas acima de 36º

André Cintra, homem nascido e erradicado em São Paulo, registrou no último domingo temperaturas acima dos 36º, chegando a picos de 38º na dobra do joelho e 42º no estômago.

"Ele estava bege, com o coração batendo umas setenta vezes por minuto", afirma a mãe, que com ele passou parte do dia. "Se ele não passasse desodorante depois do banho, certamente iria feder!", diz.

As temperaturas do corpo inteiro e da axila foram medidas por um termômetro, e a do estômago foi presumida. "Deixei o termômetro três minutos na minha axila e mais três na dobrinha do joelho", afirma André, que mesmo com essa temperatura conseguiu se medir.

Desde então, as temperaturas foram as mesmas, e os médicos não chegaram a se preocupar.

Voyeur #5

A cara era de absoluto prazer. Com o queixo elevado e a boca aberta, a qualquer momento chegaria ao absoluto gozo. Espirrou.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Entrevista com Ewerton Clides

Esta é uma entrevista anterior à divulgação dos boatos de que Ewerton Clides, o sociólogo, teria sido visto visivelmente bêbado e seminu nas cercanias de rua Augusta.

Ewerton Clides estava relaxado e vestia calça bege, camisa marrom e suspensório laranja. Mandou as devidas recomendações aos leitores que têm pago o carnê de sócio do Institutos Ewerton Clides, o IEW, em dia.

O leitor perceberá que após todas as respostas, eu disse que entendi. Mas Ewerton Clides é tão claro e preciso em suas respostas sociológicas, que eu não poderia deixar de dizer que ele obteve êxito nas explicações, por isso nada melhor do que falar claramente: - Entendi.

André Cintra: Ewerton Clides, por que você não dá entrevistas?

Ewerton Clides: Bem. Não dou entrevistas porque elas são um convite à imprecisão. O jornalista faz a pergunta, o sociólogo aqui responde, e ficamos bem. Horas depois, quando recosto a cabeça no meu queixo, me vem a inquietação: Eu não deveria ter dito aquilo, mas outra coisa. Diferentemente de um livro de sociologia, em que quando eu mudo de idéia mudo também o que escrevo, a entrevista sai do jeito que eu pensei pela primeiríssima vez. A grande vantagem da entrevista é o inconsciente, o despreparo do entrevistado. E eu não quero ser pego de calças curtas! Imagino o que aconteceria depois de eu ter dado a primeira entrevista: Manchetes dizendo que eu, Ewerton Clides, fui visto visivelmente bêbado e seminu. Bêbado porque não disse as coisas com a precisão que costumo ter; seminu, por conta de ser pego numa saia justa.

André Cintra: Entendi. Será que posso manter a esperança de um dia entrevistá-lo?

Ewerton Clides: Se eu disser que não, você pode achar que vou mudar de idéia, portanto seria um não com valor diminuto; se eu disser que sim, você pode pensar que só quis lhe dar esperanças. Entre o não e o sim, a diferença será mínima.

André Cintra: Entendi. Diga então uma coisa ou outra.

Ewerton Clides: Não é você quem vai dizer o que eu tenho que fazer ou não. Mas eu digo que não, por opção própria, embora pareça que o tenha dito porque você pediu.

André Cintra: Entendi. O senhor já jogou ping pong?

Ewerton Clides: Nunca joguei, mas já vi muita gente jogar.

André Cintra: Entendi. Vamos fazer um ping pong de palavras, sim?

Ewerton Clides: Ping.

André Cintra: Pong. Entendi. Mas não é isso que quis dizer. Eu falo uma coisa, e o senhor me diz a primeira que lhe vier à cabeça. Um filme.

Ewerton Clides: Ew, a história de um mito.

André Cintra: Entendi. Um livro.

Ewerton Clides: A autobiografia não autorizada de Ewerton Clides.

André Cintra: Entendi. Um instituto.

Ewerton Clides: Instituto Ewerton Clides, o IEW.

André Cintra: Entendi. Um alfabeto.

Ewerton Clides: O alfabeto turco otomano.

André Cintra: Entendi. Uma paixão.

Ewerton Clides: Juliana.

André Cintra: Entendi, mas achei que você fosse dizer a sociologia, senão não teria perguntado. Se não o tivesse castrado, a carreira do senhor estaria acabada, encerrada, vilipendiada, difamada, estuprada e popularizada.

Ewerton Clides: Você me perguntou e usufruí de toda minha sinceridade para dizê-lo. Se eu dissesse sociologia, teria me enrubescido mais do que um pano de bandeira ao ser pintado de bandeira da China. Creio que se deve notar primeiramente que a sociologia é a racionalização de tudo que é humano, inclusive a paixão. Seria um contra-senso da pior espécie ter a sociologia como paixão. Aliás, o certo era não ter paixão nenhuma, mas minha paixão é Juliana. E Juliana é que é certo.

André Cintra: Entendi, mas prefiro encerrar a entrevista por aqui.

Ewerton Clides: O que o senhor disse? Entrevista?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Ewerton Clides é flagrado bêbado e seminu em balada paulistana

O ilustre sociólogo Ewerton Clides é vítima de um boato insólito, no mínimo. Fontes da noite paulistana afirmam que Ewerton estava seminu e visivelmente bêbado em boate na rua Augusta, próximo à avenida Paulista. "Ele estava lustrando a careca com cerveja, e ainda comprou uma dúzia de folhas de papel machê azul na bilheteria. Estava visivelmente bêbado e seminu", afirma o garçom não identificado de uma boate que preferiu não identificar.

Ewerton Clides não pôde ser encontrado em sua residência na manhã desta segunda-feira, mas o porteiro de seu prédio garante que ele chegou visivelmente bêbado e semi-nu. "Ewerton Clides é aquele sujeito que sempre que entra no meu prédio pergunta se eu sei da honra que é abrir a porta para um sociólogo como Ewerton Clides? Foi ele, sim. Estava visivelmente bêbado e seminu", confessa pedindo que esta reportagem não revele que ele é o porteiro Rogério do prédio Sociologismo Paulista.

Rogério notou que "o mais famoso residente do prédio" estava visivelmente bêbado e seminu por conta das inúmeras sacolas com papel machê nas mãos do sociólogo. "Nunca vi tanto papel machê na minha vida. Foi então que olhei para cima e vi que ele estava visivelmente bêbado e seminu", revela.

De ressaca, o senhor Clides pediu para que a reportagem não publicasse a nota. Devido à recusa, Ewerton ofereceu-nos a coleção Sociologia para Crianças autografada por ele mesmo, Ewerton Clides. Recusa feita, ameaçou não autografar nunca mais livros à reportagem. Isso sem ver matéria publicada, em que estaria escrito que ele não respondeu os contatos da reportagem por estar notavelmente de ressaca.

Este é um ponto baixo em meio ao explendor intelectual e financeiro do ilustre sociólogo. Ewerton Clides começou a escrever no blog Eu não sou virgem, Maria! , de André Cintra, nesta semana. Perguntado se isso poderia abalar as relações com o sociólogo, André foi evasivo. "É claro que não é comum que um sociólogo do quilate de Ewerton Clides seja visto visivelmente bêbado e seminu na noite paulistana. Mas poderá trazer certa publicidade ao blog", revela em meio a risos ao saber que o sociólogo estava visivelmente bêbado e seminu.

Ewerton Clides lançará o livro Sociologia, sim; cebola, não na próxima sexta-feira em um coquetel sem bebidas alcoólicas na noite paulistana.

A faxineira e eu

Texto de Ewerton Clides

Há um certo tipo de faxineira que detesta tudo o que faz.

Pode limpar esplendorosamente o quarto do vice-presidente da república, arrumando perfeitamente a coleção de pedras antigas que estavam jogadas no armário, alisando a roupa de cama para que o sono fique ainda mais agradável e deixando o carpete subliminarmente cheiroso. Pode cumprir outros itens que lhe garantam elogios casuais ao presidente, que não se gaba de sua capacidade.

Claro que a organização das pedras antigas não estão genericamente organizadas, de modo que qualquer entendido saiba se localizar. A organização das pedras desta faxineira fictícia é feita para que somente o vice-presidente — também fictício — saiba onde está cada pedra.

É um serviço que pode somente ser feito depois de muitos anos de serviços prestados ao senhor vice-presidente. E também com muitos estudos sobre localizações macro geográficas e micro geográficas. Pensei em dizer que este trabalho é resultado de muitas broncas, mas se a nossa faxineira levasse uma bronca, somente uma, pediria demissão. Porque faxineiras deste tipo são sensíveis.

Por isso que eu, Ewerton Clides, sempre falo aos que perderam a paciência com as faxineiras que, se elas continuam trabalhando, é porque não são boas faxineiras. A boa faxineira é sensível, orgulhosa e pediria demissão.

Pois eu, Ewerton Clides, ao contrário do tipo de faxineira mencionado neste mesmo texto, adoro tudo o que faço.

Até mesmo este texto é adorado por minha pessoa. Confesso que o reli até esta parte por várias vezes, todas com lágrimas por trás dos óculos.

Uma vez, tive uma pedra no rim que me fez doer demasiado. O doutor me disse:

- Ewerton Clides, extinguiremos esta pedra a laser!

Eu lhe respondi que:

- Não, doutor! Não tem como abrir meu rim para tirar esta pedra? Fui eu que fiz!

A operação foi marcada para o dia seguinte, e o doutor notou assim que a viu pela primeira vez, que uma pedra de Ewerton Clides é preciosa demais para ser expelida naturalmente.

Ewerton Clides assina contrato com blog e pode estrear a qualquer momento

Na manhã desta segunda-feira um contrato que pode mudar a história dos blogs, da literatura e da vida cotidiana do Brasil foi assinado por André Cintra e Ewerton Clides. Trata-se da colaboração semanal do ilustre sociólogo no blog Eu não sou virgem, Maria!, de propriedade de André Cintra.

O acordo era para ser selado em dezembro, mas problemas de contusão do sociólogo (ele machucou três vezes o tendão de aquiles), adversidades no clima (choveu no mês de janeiro o que era para ter chovido em um ano!) e brigas em declarações na imprensa entre as partes postergaram o acordo para o dia de hoje.

"É uma honra receber alguém do meu quilate para colaborar em meu blog. Não aceito a colaboração, a sugestão nem a ajuda de ninguém. Ninguém vírgula, porque minha namorada vive dando pitacos! E claro, Ewerton Clides é o mais ilustre sociólogo. Ter os textos dele aqui não é uma honra, senão duas honras!", diz André Cintra visivelmente animado com o acordo.

Ewerton Clides não deu declarações, e essa declaração de André foi forjada. Mas boatos indicam que um post de Ewerton Clides pode ser visto a qualquer momento no blog. Aguardemos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Entrevista com André #5

André chegou para a nossa entrevista um tanto muxoxo. Com as duas mãos na nuca, olhava para cima com a cara de quem acabou de perder o melhor jogador do time.

Eu: Que cara é essa?! Até parece que o Valdívia foi vendido!

André: E pra Arábia, pra Arábia!

Eu: Ah! foi vendido mesmo?!

André: Oito milhões. O melhor jogador do mundo vendido por oito milhões!

Eu: Como foi essa semana para você? Como é ser entrevistado todos os dias?

André: Gostei.

Eu: Parece que você não quer falar mais, né? Ainda bem que isso só foi acontecer na sexta-feira.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Entrevista com André #4

André chegou para a entrevista de hoje um tanto ressabiado, com as mãos no bolso. Com um copo de suco de maracujá na mão, sentou-se ao meu lado e chupou o suco do início a além do fim. Além do fim porque depois que terminou, tentou chupar o que não tinha, fazendo aquele barulho que denota má educação. E começou a olhar para mim.

Eu: Não vai pedir desculpas por ontem?

André: Eu não gosto de pedir desculpas. Melhor do que pedir desculpas é dizer que isso não vai se repetir. Sim?

Eu: Ok, mas não sei se os leitores vão gostar disso.

André: Olha. A preocupação com o leitor é um modo de não se preocupar com ele. Porque se você escreve o que ele quer, vai escrever um texto ruim, de segunda qualidade, porque o leitor é provavelmente ruim e gosta de textos de segunda qualidade. Agora, se você não se preocupar com ele, escreverá textos ótimos, de primeira qualidade, que ele realmente precisa. O que num primeiro momento desagradará o leitor, lhe fará bem. O leitor precisa que escrevam cagando para ele!

Eu: É por isso que tem gente que escreve do banheiro?

André: Eu nunca escrevi no banheiro. Nem vem!

Eu: Ok. Tem uma pergunta que muita gente tem feito, e nada mais adequado do que lhe transmitir: É possível anunciar no seu blog?

André: Não.

Eu: Nem no seu jornal? Nada?

André: Não. É muito engraçado. Parece que tudo tem que ser feito para ganhar dinheiro. No meu jornal, a minha publicação, na verdade, o Umaisum, todos dizem: - "Tem que ter anúncio!" Mas meu chapa, um anúncio seria um estupro ao jornal. E não é que ele tem cu, que tem que ser estuprado. Porque eu tenho um exorbitante defeito: o de não fazer todas as coisas da minha vida para falar que fiz ou para ganhar dinheiro. Para ganhar dinheiro é que eu trabalho seis horas por dia. Agora, nas outras coisas eu não preciso ganhar dinheiro. E sempre dizem que eu tenho que ganhar dinheiro com isso... Esse tipo de gente deve ver uma pessoa bonita e dizer: - "Nossa, seu corpo é bonito! Dá para ganhar um dinheirão! Por que você não se prostitui?"

Eu: Sei, sim. Isso acontece muito comigo, na minha publicação, o Umaisum.

André: Nossa, eu tenho uma publicação com o mesmo nome que a sua!

Eu: Já tinha ouvido falar. Bem. Amanhã se encerra a semana com publicações no blog somente de entrevistas suas com você mesmo. Quero lhe fazer uma pergunta. Por que você se entrevista?

André: O que eu faço escancaradamente, as outras pessoas fazem escondido. É assim. Eu reparo que a maioria das pessoas com quem converso perguntam-me uma coisa para falar delas mesmas. Por exemplo: - De que tipo de música você gosta, André?

Eu: Eu gosto de Bidê ou Balde, Adriana Calcanhoto, não sei dizer...

André: Bem, eu gosto de Cássia Eller, Jota Quest, Beethoven, gosto muito de música gospel também, mas para ouvir aos sábados, sabe? Gosto de Led Zeppelin, de Beatles...

Eu: Ahhh.. Entendi! Você não queria ouvir a minha resposta, queria dizer a sua.

André: Isso! Aqui eu pergunto para mim mesmo diretamente. Não preciso usar ninguém. Quer um golinho de suco?

Eu: Não, brigado.

André: Ah, ainda bem que você não quer! Porque não tem mais!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Entrevista com André #3

Na entrevista de hoje, André se mostra não bi, mas tripolar. Chegou animado, dando respostas efusivas que não costumam fazer parte de seu feitio. No decorrer da entrevista, porém, o clima esquenta. A diferença é como a de um banheiro limpíssimo em que um sujeito entra para lavar as mãos e de repente faz um cocô e não dá descarga.

Eu: Como estamos? Esse sorriso não me engana!

André: Aconteceu uma grande coisa no início desta manhã. Claro que não foi uma medalha de ouro do Brasil nem uma grande notícia sobre meu time. Aconteceu que encontrei meu relógio que não funciona!

Eu: Jura? Onde estava? Você o procurava há muito tempo?

André: Na gaveta de cima.

Eu: Muito bem, muito bem. Vamos ao que interessa. O blog passou a ser mais visitado depois da divulgação de ontem?

André: Rapaz, seu blog é muito freqüentado, viu? Porque desde que nossa entrevista foi publicada, muitas pessoas entraram no meu blog também!

Eu: Uma mão lava a outra.

André: Que que tem mamão?

Eu: Uma mão lava a outra. Mão.

André: Ah, sim!

Eu: Eu tenho uma curiosidade sobre seu blog. Você não se sente invadido? Não vê muitas pessoas se apropriando do que você diz?

André: Vejo, sim. Mas isso aconteceria de qualquer outra forma, como sempre aconteceu. Eu falo uma coisa totalmente nova, e a pessoa olha para mim concordando, como se já tivesse pensado nisso antes. Ou como se eu tivesse dito uma coisa banal. Quanto ao blog, é inevitável. Aconteceria de um jeito ou de outro.

Eu: É verdade, é verdade. Você já viu muitas pessoas dizendo o que você disse como se fosse delas?

André: Já, sim. Mas eu acho que elas fazem isso para se sentir como se fossem eu. É a mesma coisa que eu colocar uma fantasia do Hulk. E agir como se o Hulk fosse eu! Francamente!

Eu: Calma. Não se enerve, que já estamos encerrando. Conte um pouco mais sobre o transtorno tripolar de um superior seu.

André: Superior, alto lá! Superior aqui na firma. Superior a mim, só três pessoas: meu amor, porque é a pessoa mais linda, graciosa, perfumada, ajeitada, gatinha, enfim, porque é a melhor pessoa mesmo do mundo; Edmundo, porque já jogou no meu time; e Michael Phelps, porque teve antes de mim a idéia de se dopar antes de uma Olimpíada. (Michael Phelps e Edmundo são inferiores ao meu amor) Agora, o transtorno de tripolaridade eu inventei para caracterizar uma pessoa de minha firma. Pensei: bipolar é pouco para ela. Por isso: Tripolar! Veja, a tripolaridade deve ser entendida como uma bipolaridade acentuada; assim como a tetrapolaridade é uma tripolaridade acentuada.

Eu: Mas a tripolaridade não seria uma bipolaridade atenuada, já que tem três polos?

André: Veja. É um conceito que não deve ser levado no rigor da palavra. O que você falou é óbvio, mas de uma burrice de entendimento terrível. Ora essa!

Eu: Acho melhor encerrarmos por aqui. Opa, péra aí, dá tchau pelo menos.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Entrevista com André #2

Devido ao grande sucesso de ontem, esta semana será especial de entrevistas de André Cintra com ele mesmo. O dono do blog pede desculpas por não ter dito isso ontem, mas ele se justifica dizendo que não fez uma divulgação prévia para evitar um imenso fluxo nos servidores do blog, causando-lhe problemas de ordem financeira.

Hoje, André estava mais charmoso. Chegou logo dizendo que era um prazer me ver, e que era uma pena não me tocar já que ele não tocava espelhos: mera superstição.

Na entrevista de hoje, André conta o endereço de seu blog, para que todos nós possamos conferir os textos brilhantes deste gênio, e ainda nos conta algumas curiosidades excêntricas de sua vida particular.

Continuemos.

Eu: Primeiramente, preciso tirar uma dúvida dos leitores. Ontem mesmo dissemos que você tem um blog, mas não falou o endereço. Diz pra gente!

André: Claro! Anota aí.

Eu: Deixa eu pegar uma caneta. Pronto, pode falar.

André: É dáblio, dáblio, dáblio

Eu: Ã

André: Ponto, eu não sou virgem maria.

Eu: Tudo junto?

André: Isso, tudo junto. Ponto blogspot, ponto com.

Eu: www.eunaosouvirgemmaria.blogspot.com?

André: Isso!

Eu: Agora bastante gente vai entrar, porque o blog é muito lido.

André: Eu sei. Não é à toa que lhe concedo esta entrevista.

Eu: Entendo, entendo. Vamos fazer um ping pong. Soube que você não concede lugar às pessoas de idade nos ônibus, é verdade?

André: É, sim! Faço isso para os velhinhos sentirem na pele o que eles fizeram com meus bizavós!

Eu: É verdade também que você conta as sílabas das palavras que fala?

André: Das que eu falo e das que eu penso! Acho que Deus vê minha cabeça como a contabilidade de sílabas, em que todas as palavras em língua portuguesa têm as sílabas contadas. Gostaria de conhecer as cabeças de contabilidade de sílabas de outras línguas, mas isso é um plano futuro.

Eu: Você poderia ser mais sucinto nas respostas, sim? Isto é ping pong, e você está como que dando dois, três toques antes de me devolver a bolinha. Por que abóbora é laranja e laranja não é abóbora?

André: Porque o primeiro laranja é adjetivo, o segundo é substantivo.

Eu: Ficamos por aqui. Sim?

André: Sim, sim.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Entrevista com André

Hoje, o entrevistado de nosso famigerado blog é André Cintra, também conhecido por André Ursípedes. Por falar em jeito de se chamar, André é chamado de Filho por seu pai e por sua mãe, de Amor por sua namorada e noiva, de Grande pelos mendigos e de Andé pelo seu sobrinho - que quer dizer também André.

André é muito conhecido por sua genialidade, sua inventividade, sua bipolaridade - tripolaridade e tetrapolaridade também -, seu nariz acentuado e por seu belíssimo blog (para quem não sabe, o blog Eu não sou virgem, Maria! é de André, também).

Para a entrevista, o blog convocou o melhor escritor da rede de escritores do blog: André Cintra.

Eu: Você é sempre pontual assim? (A entrevista foi marcada para as 16:58 e André chegou nesta exata hora)

André: Sim, sim. Quando marco com alguém, chego na hora. Mas para você não precisar perguntar qual é o segredo de minha pontualidade (eu sei que você está pensando em perguntar isso), eu me prolongo em minha resposta e lhe confidencio: o segredo da minha pontualidade é me programar para chegar sempre meia hora antes. Assim, se eu me atrasar meia hora, estarei no horário combinado!

Eu: Poxa vida. Se soubesse, poderíamos começar a entrevista meia hora antes, porque uso a mesma tática!

André: Sim, sim.

Eu: É verdade que você não gosta de bolo de cenoura?

André: Não gosto de bolo de cenoura nem de cenoura. Acho que cenoura não combina com nenhum tipo de comida. É lamentável que tenham inventado esse bolo. Imagine você o tanto de donas de casa que não fazem deliciosos bolos de chocolate, de fubá - enfim, deliciosos bolos - para fazerem o terrível bolo de cenoura?

Eu: É tudo isso, mesmo?

André: Olha. Na verdade, eu até como bolo de cenoura. Mas é um desperdício deixar de fazer outro bolo para fazer o de cenoura.

Eu: Continuamos outro dia. Sim?

André: Sim, sim.

sábado, 9 de agosto de 2008

Ficha técnica - Wolvi

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Pergunta do leitor

Costumo tratar o leitor deste blog com muito apreço. Primeiro, que se lê este blog, deve ser uma pessoa de bom gosto considerável e inquestionável. Depois, porque me dá muitos elogios.

Porém há outro tipo de leitor. O leitor que, da platéia, ri alto, que solta gritos no meio do espetáculo! É o leitor que se revolta da sua condição de leitor. É o leitor que quer algo mais, que quer participar, que não quer ficar sentado de boquinha fechada!

Um leitor desse último tipo envia a seguinte pergunta:

André, o blog aceita colaborações? Textos, imagens, gravuras, quadrinhos etc, podem ser-lhes enviados para uma possível postagem?

Resposta: Não.

Editorial - Olimpíadas

É inaceitável a intolerância à beleza presente na China pós-comunista. E a abertura das Olimpíadas foi um claro exemplo disso.

No início da apresentação, uma garota chinesa canta o hino chinês. Ora. O hino francês é muito mais bonito de se ouvir. E a menina chinesa poderia ser trocada por outra um pouco menos chinesa - conquanto que soubesse cantar o hino francês sem sotaque.

Fora isso, o estádio Ninho de Pássaro deveria passar por severas reformas. Este é um estádio que consegue ao mesmo tempo ignorar a tradição e recusar a evolução. É a aberração em forma de estádio. Talvez uma andorinha cega fizesse melhor um ninho para seus filhotes. Os chineses deveriam olhar com mais atenção o estádio Palestra Itália, por exemplo.

E, finalmente, no desfile de atletas, não havia um sequer que seria capa de revistas como a Vogue e a Época. Ou seja, não tinha um que seria tão bonito para ser capa da Vogue e nenhum tão assassino que seria capa da Época. E aqui não me refiro somente aos atletas chineses, não. Itália, Espanha, Estados Unidos e, por que não?, Brasil exibiram a quem quisesse ver atletas que definitivamente não nasceram para aparecer na televisão. Porém, todos nós sabemos de quem é a organização, e culpar os chineses novamente é inevitável.

A China precisa mudar o foco de sua vida. A abertura das Olimpíadas mostrará que viver pelo trabalho é um desperdício enquanto há tanta beleza para o mundo. Com tanta feiúra, deve ser por isso que os chineses têm os olhos tão pequenininhos.

Giorgio Armani #2

Jorge retirou um copinho de plástico e nele colocou café. Como estava muito quente, Jorge segurou o copinho por cima, onde se põe a boca. Levou direitinho até sua mesa, onde se esqueceu de tomar. Continuou a trabalhar como trabalha todos os dias.

Armando acordou sem vontade de fazer cocô. Tomou seu café da manhã normalmente, tomou banho e escovou os dentes olhando-se no espelho. Depois de se vestir, ainda sobrou um tempo, que foi aproveitado para ver um pouquinho de televisão. Como não passava nada de relevante, resolveu rumar ao trabalho um pouco mais cedo. Ao rodar a chave da porta de casa, sentiu uma vontade de fazer cocô. Ele pensou nessa hora que rodar a chave sempre dá vontade de fazer cocô. Sorte de quando isso acontece quando se chega em casa, não quando se sai. Olhou no relógio e só havia três minutos de folga. Tempo insuficiente para defecar.

Jorge telefonou para algumas pessoas, entre elas Bill Clinton. Mas Bill estava ocupado e prometeu que lhe telefonaria depois. Quando ia colocar o telefone no gancho, Jorge esbarrou no copinho de café, já frio. Derrubou todo pela mesa. Seu chefe direto acabara de entrar na sala, e quando viu o café todo esparramado, ordenou a Jorge que fosse pegar papel no banheiro. Jorge correu até lá e, como não havia papel de secar as mãos, foi obrigado a pegar papel higiênico. Havia cinco cabines, escolheu a primeira porque ninguém resolveria utilizar a primeira cabine para defecar. Pegou um pouco de papel higiênico que se revelou insuficiente. O chefe, enlouquecido, ordenou que pegasse o papel higiênico inteiro. A mesa estava limpa e Jorge se esqueceu de levar o papel higiênico de volta.

É este o motivo de Armando estar com esta cara incomodada e este mau cheiro. Na hora do almoço, foi correndo ao banheiro. Utilizou a primeira cabine porque era a mais próxima.

Bill Clinton nunca mais telefonou.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Escadas

Sempre desci escadas de dois em dois. Do jeito bem adolescente, que eu aprendi quando tinha seis anos, vendo as meninas mais velhas do meu prédio. Era uma descida dançada. Uma dança que fazia a própria música. No térreo, todos esperavam a adolescente surgir. Com um exagero agradável, faltava somente uma cortina no fim da escada!

Hoje, todas elas se mudaram, mas se as visse descendo a escada, desceriam devagar, de um em um.

Porque só desce de dois em dois quem desce correndo, com vontade de chegar logo no térreo. Ninguém desce de dois em dois para trabalhar.

Parei de descer dessa forma só quando vi um filme japonês, em que eles desciam rapidamente, sem ritmo. De um em um em um em um em um em um infinitamente. Muito mais rápido. Imitei.

Acontece o seguinte. É incrível a facilidade que o débil mental tem de causar admiração. Entre uma coisa maravilhosa e uma débil mental, gostamos primeiro sempre da débil mental. Só gostamos do não débil mental sem querer.

(O débil mental não é débil mental.)

É por isso que gostamos de rock, que comemos no Mcdonalds, que nos deslumbramos com o estádio em forma de pneu. E que imitei os japoneses.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ficha técnica dupla - Rogério e Rogéria


Giorgio Armani

Armando, garboso, alto e careca, entrou no banheiro público com uma incomensurável vontade de defecar. Nunca evacuava fora de casa, por considerar este um hábito sagrado, quando lê o jornal ao mesmo tempo em que aproveita a delícia que se é tirar de si algo que pesa.

Quando criança, foi um médico à sua escola e lhe esclareceu que doenças podem ser contraídas quando se senta em uma privada pública. O médico mostrou – mostrando fotos que “não lhe deixavam mentir” - que estas doenças podem desativar o poder sexual de uma pessoa sadia com verrugas por toda a genitália.

Com um raciocínio brilhante, Armando, no banheiro, vê cinco cabines da porta até a janela. Notou que a primeira era a mais utilizada, a segunda um pouco menos, a terceira um pouco menos que a segunda, a quarta ainda menos, e que a quinta, pela distância, quase nunca era utilizada. E se dirigiu a ela para defecar sem contrair doenças.

Minutos antes, Jorge – um sujeito bonachão, de muito respeito, pois estava acima do peso - foi ao mesmo banheiro. O médico que foi à escola de Armando nunca foi à escola de Jorge fazer palestras. Nem este médico, nem nenhum outro. E Jorge tinha o hábito de fazer cocô fora de casa. Ele não considerava este um ritual sagrado. Ele nem lia jornais. Evacuar era simplesmente tirar de si uma ou duas coisas marrons. Um hábito, para ele, intranscendente.

Mas ultimamente Jorge percebeu em seu saco escrotal, uma ou duas verrugas. Não foi ao médico porque tinha medo. Como seu medo era pessoal e ninguém tinha culpa ou relação com ele, Jorge entrou no banheiro e viu cinco cabines. Certamente a primeira era a mais utilizada, a segunda um pouco menos, a terceira menos ainda, a quarta menos e a quinta devia ser raramente utilizada. Pensou:

- Vou na quinta, porque essas verrugas podem ser transmissíveis.

Esta é a causa da verruga marrom que apareceu no saco escrotal de Armando na última quinta-feira.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ficha técnica - Valdívia

Ficha técnica - Beltrano

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

André engorda dois quilos e já passa dos 90

Confirmando a tendência que se anunciava pelo aumento na barriga, André Cintra engordou dois quilos desde a última pesagem confiável, ocorrida em junho, antes de terminarem as aulas. Dos 89kg, André passou para 91.

"Creio que esta não é uma mudança muito significativa, se olharmos para uma pessoa como um todo. A proeza é que engordei dois quilos em somente dois meses", orgulha-se André ao sair da balança confiável.

A balança confiável fica no bairro de Perdizes, e André não se pesava por lá havia dois meses devido à grande distância que os separava. "Eu nunca mais me pesei nela porque fica perto da faculdade. Eu não iria até a faculdade só para me pesar numa balança em especial", afirma.

André ainda destaca o por quê de ser esta a balança confiável e não outra. "Eu confio nessa balança porque é nela que sempre me peso. Poderia ser qualquer outra, desde que me pesasse nela com certa constância."

Ficha técnica - Fulana



sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Assalto 2

É claro que eu ando distraído. Eu ando devagar, a minha letra é ruim, eu esbarro nas coisas e não sei falar direito.

Porque quando estou fazendo essas coisas, penso em outras mais importantes. Quando escrevo, não posso pensar na letra. Porque se eu pensar na letra, posso perder o pensamento. E o pensamento é muito mais importante para o resto da humanidade do que a minha letra.

A garota que trabalha comigo disse que os gênios têm letra ruim - me citando como exemplo, claro. No meu caso é por conta disso.

Mas eu andava distraidamente no centro, quando pensei: - Preciso andar rápido, pode ser que me assaltem. Mas o pensamento não durou quase nada - ou eu ando devagar mesmo aumentando a velocidade.

Ou ainda não adianta andar rapidamente para evitar assaltos.

- Continua andando, continua andando!

O sujeito falou muito perto de mim. E eu continuei.

- Pega seu celular.

- Agora pega sua carteira, tira todo dinheiro que tem dentro e me dá.

Dei-lhe o dinheiro e, quando os dois estavam indo embora, satisfeitos, perguntei ansioso:

- E o celular?!

- O celular, você fica.

Morri de dó dos rapazes. Uma senhora que trabalha comigo, é claro que vai dizer que os assaltantes são uns canalhas mau-caráter.

Mas só tem estes atributos, pessoas que se alimentam. Pessoas que não se alimentam, não são pessoas. São bichos que têm que fazer de tudo para comer.

E eu morro de dó de bicho.