domingo, 27 de junho de 2010

Este blog voltou

No dia 12 de abril, um texto foi publicado neste espaço dando conta de que eu teria que ser demitido para que este blog voltasse à carga máxima. Pois agora eu lhes digo: este blog voltou à carga máxima!

sábado, 5 de junho de 2010

A propaganda da Skol

Há uns anos, o William Bonner disse que o público do Jornal Nacional é semelhante ao Homer Simpson. Achei engraçado o que o William disse, e muito mais engraçada a reação das pessoas.

Diziam que era um absurdo que o homem por trás do maior telejornal do Brasil pensasse tão pouco dos brasileiros! Pouco?! O Homer, minha gente, é o falso burro. Aquele que é capaz de pensar as maiores idiotices por ignorância ou teimosia – ou os dois –, mas na mesma medida é capaz de saídas geniais e inventivas.

Repito: não sei por que ficaram tão ofendidos. Eu digo a meu pai que ele é o Homer, e ele não se importa. Pelo contrário, se sente muito orgulhoso!

Agora me ocorreu o seguinte: será que o William quis dizer que o público do Jornal Nacional é careca?! Não sei. Vou perguntar depois pelo Twitter.

Mas o que eu quero dizer é que fizeram tanto caso que o William estava diminuindo as pessoas, mas quando nos diminuem pra valer, sem justificativa nenhuma, ninguém fala nada. Um caso me chamou muito a atenção, na propaganda da Skol que agora tem latas falantes.

Como se não bastasse que há um século estão veiculando propagandas tirando sarro dos argentinos, eles caracterizam os personagens argentinos à exaustão. São todos narigudos, testudos e ainda usam a clássica camiseta argentina azul e branca. Até aí, eu compreendo, embora ache um pouco exagerado.

Mas veja só como é a camiseta da Argentina de um dos torcedores nesta propaganda. Isso. Além de o sujeito ser narigudo, ter mullets, ele veste uma camiseta azul e branca escrita ARGENTINA! Porque se não tivesse escrito, a gente acharia que eles fossem italianos ou búlgaros. Veja, com meu fabuloso print screen:


Se o William acha que o telespectador do Jornal Nacional é o Homer Simpson, os publicitários da F/Nasca – que fizeram esta propaganda – acham que o público que vê as propagandas da Skol é simplesmente o Mool:

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Vampeta, o gatinho

Desde que eu abandonei este blog tal qual um jornal que se dá aos cães, penso numa forma de reativá-lo. Na verdade, tenho que ser um pouco mais justo. Estou colocando no blog as frustrações que cabem somente em mim. Este blog nunca foi abandonado. Enquanto tiver este número enorme de pessoas entrando aqui, ele não será abandonado. Ontem entraram seis pessoas, e fiquei felicíssimo.

Mas é sério. Dizer que este blog está abandonado porque não tem sido atualizado é como dizer que abandonaram Shakespeare só porque ele não tem escrito novos livros.

Eu é que abandonei minha própria escrita. Um dia eu hei de morrer. Mas este blog, não. Ele é bastante imortal.

Pois eu tenho pensado seriamente em criar uma série de posts sobre meus gatos. Eu não me sentia tão à vontade para dizer que esses gatos são meus (porque eles eram mais da minha sogra e da minha namorada) até eu conhecer alguns gatinhos que vi nascer. Aí, não tem jeito. São tão meus quanto minhas camisas do Palmeiras ou quanto meu nariz.

Vou tentar iniciar essa série hoje. Se ela não tiver sequência, não haverá problema. Você sabia que O Processo, do Kafka, é somente um fragmento? Eu sei isso porque ele me plagiou. Eu publiquei O Pocesso seis meses antes de Kafka publicar O Processo.

Uma lástima.

Pois o gato que escolhi começar a falar é o Vampeta.

Eu nunca dei muita bola ao Vampeta, porque ele é siamês. É uma falha preconceituosa minha, porque eu não costumo gostar de nada que seja de marca. Não compro um Nike mesmo que ache bonito, não visto um moletom grandão da Adidas mesmo que seja quentinho e não gostava de gato siamês nem se ele gostasse de mim. E eu percebi uma coisa: como são feios os siameses! Mas feios para valer.

E de uma feiúra antipática, porque eu costumo gostar das coisas feias. Veja só que coisa mais séria: eu prefiro os feios. Quando vou comprar um porquinho de barro, procuro o que tem a carinha mais torta. Quando gosto de um jogador, prefiro os Obinas, os Valdívias. A feiúra tem a vantagem da peculiaridade. Porque todos os bonitos se parecem, enquanto os feios são únicos.

Os siameses são os únicos feios que se parecem.

*

Uma vez eu confessei à minha namorada que estava com medo de perder o Chimbinha e o Cid, dois gatos de que gosto para valer. Ela disse que eu ficasse tranquilo, pois se fossem sumir com alguém, sumiriam com o Vampeta, porque ele é siamês.

Eu fiquei muito aliviado. Não gostava dele, mesmo.

*

O nome de Vampeta foi uma escolha rápida e definitiva. Olhei aquela carinha feia, e não tive dúvida: Vampeta.

Mas você nem é corintiano, cara pálida!

Este nome é tão perfeito para este gato, que dei o nome apesar de homenagear um ex-jogador corintiano. Eu não daria o nome se fosse um jogador de quem eu não gostasse quase nada, como o goleiro Ronaldo ou o meio de campo Marcelinho Carioca. Vampeta era muito simpático, e eu gostava dele.

Mas não é uma homenagem direta ao ex-craque do Corinthians. Ele chama Vampeta porque, assim como o jogador corintiano, é uma mistura de vampiro com capeta.

*

Um gato siamês é branco no corpo, mas escurinho nas extremidades. Como essa ovelha:
*

Então comecei desprezando o Vampeta. Sentia raiva dele desde o começo. Ele miava, e aquele som horripilante entrava pelo meu ouvido e dava mil voltas em meu cérebro antes de sair pelo outro.

Ah! E como era pegajoso, esse gato! Ele não percebia minha má vontade, e se esfregava em mim até dormir no meu peito. Eu tossia só para ele sair.

Assim foi até que o Palmeiras jogava contra o Atlético Paranaense, pela Copa do Brasil. Um empate classificaria o Palmeiras, mas o Atlético fez um gol de pênalti. Aí fiquei absolutamente irritado. E o Vampeta veio se esfregar em mim.

Disse um palavrão e o repeli como um spray anti-gatos. Mas a minha namorada disse disfarçadamente:

Você afastando gato? Gato dá sorte!

No desespero, me apeguei a esta crendice, abracei o Vampeta e no minuto seguinte foi gol do Palmeiras. Meu amor por este gato cresceu tão completamente neste momento, que lhe dei um abraço que o fez sair voando. Só fui vê-lo no dia seguinte, enquanto ele comia alguma coisa.

*

O gol que Vampeta proporcionou ao Palmeiras me fez vê-lo pelo jeito certo.

Aliás, Vampeta é como se fosse Portugal. É preciso olhá-lo da forma correta para sentir amor por ele. Dizem que portugueses são burros, chatos e ranzinzas. Não é isso. É a lógica deles que é deveras peculiar. E se soubermos apreciar esta lógica, este jeito, este sotaque, conseguimos admirá-los a todo instante. Uma conversa de português é muito mais engraçada que uma piada de português se olharmos do jeito certo.

Enfim, com Vampeta também é assim. É preciso ver do jeito certo este gato até sacar que ele é bonito, e que o jeito chato dele é bastante carinhoso.

*

E ontem deu meia noite, e eu fui buscar o Vampeta na rua, para que ele dormisse na cadeirinha que comprei para usar o computador, mas que agora é a que ele prefere dormir. Não achei o Vampeta.

Ele não estava com os outros gatos, não estava sob os carros, não estava na rua, não estava no canal, não estava no telhado, não estava nas cadeiras. Eu pedi a Deus que o Palmeiras tomasse mil gols, mas que ele me dissesse onde estava este gato. Sério.

De repente ficou impossível dormir sem o ronco dele. Ficou inadmissível um momento de prazer sem irritar-me com ele. Pesquisei até na internet para descobrir que siamês gosta de carinho no pescoço, e fiquei feliz ao ver que funcionava.

Mas ele não aparecia de jeito nenhum.

Eu já queria chorar, queria bater a cabeça na parede e jurar que não me apegaria mais a nenhum gato, porque eles somem todos.

*

A Juliana abriu a porta e o Vampeta voltou, sem saber de nada.

Eu lhe dei um abraço tão forte, tão grande. Um grito maior que de gol, que o fez sair correndo de novo. Mas eu já tinha fechado a porta do quarto, e ele foi logo dormir na cadeirinha.